O século XXI é uma velha hipocondríaca que, vez ou outra, para a desgraça dos parentes, ensaia um sorriso de vagabunda debaixo das cobertas.
E não abandona a cama, pois, diz ela, está frio lá fora. E fode com o abajur, julgando ser ele o seu falecido esposo.
Seja lá o que for a vida, sua velha, ela se faz nas ruas!
Não dentro dessas porcarias de cubículos onde todos se aprisionaram.
A vida acontece lá fora, mas estão todos cegos para vê-la e temerosos demais para vivê-la.
Cercados por almofadas em suas celas de hospício, apreciando uma comodidade doentia, hipnotizados pelas luzes dos monitores e pelos toques infantis dos celulares, não muito diferentemente de um primata que os visse pela primeira vez.
A vida permanece a mesma: sempre homens, acovardados atrás de máquinas, ante o mundo.
Medo. Medo da mais simples novidade. Por isso essa devoção à rotina de trabalho e tédio. Por isso essa necessidade estúpida em transformar até o menor espaço do globo em um lugar conhecido: shopping centers, aeroportos, academias e condomínios, tudo exatamente o mesmo para que o homem moderno não entre em desespero. Lugares mortos.
E catalogaram todos os animais também.
Esta é a história de uma velha que temia sair de casa. Todos os dias pela manhã, caminhava trêmula, de camisola, até o portão. E retornava, ainda trêmula, para o quarto, imaginando ter saído de casa. E, todos os dias, realizava o mesmo percurso sem sentido.
A história de uma imbecil prepotente que se gabava de destruir o mundo, enquanto comia uma pizza no sofá, assistindo TV, mas que a única coisa que destruía era a si mesma. E não deixaria de fazê-lo, por ser o seu único orgulho.
E de uma centena de imbecis como ela, marchando para o vazio com uma precisão militar e com um sorriso idiota no rosto. Apresentando a história o espetáculo lastimável que é maior geração de retardados de todos os tempos.
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